Dêem-me tudo. Eu quero mais.


Dêem-me o mundo, para que eu possa ser mais.
Essa escuridão toda me dá angústia
Eu não quero ser assim tão vazia
De palavras
Momentos
Sintonias.

Eu quero mais.
Dêem-me o mundo, as flores, os rios, mares e oceanos
Me presenteiem com a natureza
Eu vou saber manusear todo essa beleza
Carregar nos braços a esperteza
De ter o universo todo em minhas mãos.

Dêem-me asas, e me soltem para o infinito
Deixe-me bater minha liberdade
Ir à busca da felicidade
Ter o prazer de encontrar um lugar
Onde eu só me encontre
E só me encontrem eu

Eu quero gozar a oportunidade
De viver num mundo só meu
Não me tirem a alegria
E dêem-me vida em excesso.
E ainda assim
Eu quero mais.

O "nós" que construímos



Era inverno, e o clima não poderia estar melhor. Acordei com os primeiros raios de sol invadindo meu quarto e deixando tudo mais claro e agradável. Virei-me para o lado e senti o melhor perfume do mundo: o perfume do meu homem. Ele estava dormindo tão tranquilamente, seu peito subia e descia num ritmo reconfortante, e seus cabelos estavam voando bagunçados pelo travesseiro. Se existisse realmente o paraíso, aposto como essa seria a representação perfeita.

O vendo assim tão perfeito e tão meu não pude deixar de lembrar dos nossos primeiros anos de casados. Naquela época eu achava que nada no mundo poderia ser melhor do que estar ao lado dele. E realmente, eu estava certa. Lembro do nosso primeiro apartamento, da felicidade que esbanjávamos quando conseguimos comprá-lo e como entramos, literalmente, com o pé direito naquela nova vida. Sinto saudade daquela juventude toda que tínhamos, e de como nos amávamos em todos os lugares que víamos pela frente. Em como transformamos aquele pequeno cantinho no nosso lar, repleto de nós e do nosso amor por todos os cômodos.

Daí vieram os filhos, as noites mal dormidas, as primeiras brigas. Vieram também às responsabilidades, a loucura de ser mãe, esposa e dona de casa ao mesmo tempo.  A rotina a dois pode ser insuportável. Lembro-me de ficar louca com as toalhas jogadas em cima da cama, com as latas de cerveja abertas em cima da mesinha da sala e quase morrer quando ele botava os pés no sofá. Tiveram dias que eu pensei seriamente que aquele homem que deixava meus filhos brincarem na lama e nem ligava para isso, não podia ser o mesmo com quem eu tinha me casado.

O tempo passou e as coisas, inevitavelmente, mudaram. Educamos nossos filhos, cuidamos dos nossos cachorros com carinho, nos mudamos para uma casa maior. Eu vi o corpo dele mudar, a barriga crescer e os cabelos caírem. Ele também viu a lei da gravidade agindo, perversamente, comigo. Viu meu corpo ficar molengo e caído, e meus cabelos, com as raízes brancas. Envelhecemos.
E agora, que ele acabou de abrir os olhos, se virar pra mim e dar o sorriso mais perfeito do universo, não posso deixar de pensar:


-Deus, como é possível amar alguém tanto assim?