Feliz ano novo!



"Nós abriremos o livro. Suas páginas estão em branco. Nós vamos pôr palavras nele. O livro chama-se Oportunidade e seu primeiro capítulo é o Dia de ano novo."

Ah! Mulheres..


“Já viram como as mulheres conversam com os olhos? Elas conseguem pedir uma à outra para mudar de assunto com apenas um olhar. Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar. E apontam uma terceira pessoa com outro olhar. Quantos tipos de olhar existem? Elas conhecem todos.”

— Luís Fernando Veríssimo

Manual de instruções



Não gosto de respostas concretas. Sempre que as for buscar dentro de mim, não as encontrará. Só consigo expor o que estou sentindo com meias palavras, duplos sentidos e algumas indiretas. Porque ser direta me cansa. Eu gosto é de instigar o outro a me desvendar, a tentar descobrir o que há entre as minhas entrelinhas. Não faço de propósito, é que existe em mim um lado todo misterioso que não consigo controlar.

Acho que quem me vê de fora, enxerga uma pessoa animada, de bem com a vida. Estou sempre dançante, contando piada e rindo a toa, mas quando um estranho tenta se aproximar de mim, eu me fecho. Não porque quero, mas porque sou naturalmente desconfiada e se a pessoa não me deixar relaxada e tranquila, pode ser que eu nunca me revele. Dizem que eu sou uma personalidade marcante, porém para poucos. E eu concordo.

Ás vezes sou meio careta, certinha e gosto de tudo do jeito que têm que ser. Sigo a maioria dos padrões convencionais que me impõem, mas em pensamentos sou totalmente diferente, discordo de quase tudo e se tivesse coragem mudaria totalmente o ritmo da minha vida. Em algumas festas eu dou uns surtos e libero essa minha fera interior. Bebo umas e danço até a luz da pista se acender. Mas só de vez em quando. Normalmente costumo brindar ao costume e aos bons princípios, então não tem com o quê se incomodar.

Preocupo-me muito com a humanidade, então se me chamarem para um projeto social, fazer caridade ou programas de preservação ao meio ambiente, pode apostar, estarei lá. Esse meu lado humanitário puxa também um lado espiritual. Tenho crenças diferentes e que a maioria das pessoas acham, no mínimo, estranhas. Mas não ligo, sei quem sou.

Já ouvi dizer que sou imprevisível, ou “de lua” como diria a minha avó. Esperam que eu faça uma coisa e eu faço outra. Simples assim. Pra me agradar as pessoas precisam fazer pouco. O principal é me surpreender. Fico pra morrer com surpresas, são minhas preferidas. E o que me atrai ao extremo é conversar, uma troca intelectual é essencial. Meu amor é amigo.

E por último tenho mania de liberdade. Gosto de ser livre, de fazer o que der na telha. Pessoas pegajosas, que me sufoquem, pouco terão de mim. Agora se me deixar solta para levantar voo, pode acreditar te levarei ao céu comigo.

Dêem-me tudo. Eu quero mais.


Dêem-me o mundo, para que eu possa ser mais.
Essa escuridão toda me dá angústia
Eu não quero ser assim tão vazia
De palavras
Momentos
Sintonias.

Eu quero mais.
Dêem-me o mundo, as flores, os rios, mares e oceanos
Me presenteiem com a natureza
Eu vou saber manusear todo essa beleza
Carregar nos braços a esperteza
De ter o universo todo em minhas mãos.

Dêem-me asas, e me soltem para o infinito
Deixe-me bater minha liberdade
Ir à busca da felicidade
Ter o prazer de encontrar um lugar
Onde eu só me encontre
E só me encontrem eu

Eu quero gozar a oportunidade
De viver num mundo só meu
Não me tirem a alegria
E dêem-me vida em excesso.
E ainda assim
Eu quero mais.

O "nós" que construímos



Era inverno, e o clima não poderia estar melhor. Acordei com os primeiros raios de sol invadindo meu quarto e deixando tudo mais claro e agradável. Virei-me para o lado e senti o melhor perfume do mundo: o perfume do meu homem. Ele estava dormindo tão tranquilamente, seu peito subia e descia num ritmo reconfortante, e seus cabelos estavam voando bagunçados pelo travesseiro. Se existisse realmente o paraíso, aposto como essa seria a representação perfeita.

O vendo assim tão perfeito e tão meu não pude deixar de lembrar dos nossos primeiros anos de casados. Naquela época eu achava que nada no mundo poderia ser melhor do que estar ao lado dele. E realmente, eu estava certa. Lembro do nosso primeiro apartamento, da felicidade que esbanjávamos quando conseguimos comprá-lo e como entramos, literalmente, com o pé direito naquela nova vida. Sinto saudade daquela juventude toda que tínhamos, e de como nos amávamos em todos os lugares que víamos pela frente. Em como transformamos aquele pequeno cantinho no nosso lar, repleto de nós e do nosso amor por todos os cômodos.

Daí vieram os filhos, as noites mal dormidas, as primeiras brigas. Vieram também às responsabilidades, a loucura de ser mãe, esposa e dona de casa ao mesmo tempo.  A rotina a dois pode ser insuportável. Lembro-me de ficar louca com as toalhas jogadas em cima da cama, com as latas de cerveja abertas em cima da mesinha da sala e quase morrer quando ele botava os pés no sofá. Tiveram dias que eu pensei seriamente que aquele homem que deixava meus filhos brincarem na lama e nem ligava para isso, não podia ser o mesmo com quem eu tinha me casado.

O tempo passou e as coisas, inevitavelmente, mudaram. Educamos nossos filhos, cuidamos dos nossos cachorros com carinho, nos mudamos para uma casa maior. Eu vi o corpo dele mudar, a barriga crescer e os cabelos caírem. Ele também viu a lei da gravidade agindo, perversamente, comigo. Viu meu corpo ficar molengo e caído, e meus cabelos, com as raízes brancas. Envelhecemos.
E agora, que ele acabou de abrir os olhos, se virar pra mim e dar o sorriso mais perfeito do universo, não posso deixar de pensar:


-Deus, como é possível amar alguém tanto assim?


A nossa praça

Estou sentindo nas veias, meu sangue parar, um desalento que vem me consumindo, me deixando louca. Então, enquanto ainda somos alguém, preciso te dizer algumas coisas.

Você dizia que de todos os seus relacionamentos, eu fui o melhor, que eu te fazia amar, sem sofrer ao mesmo tempo, aliás, coisa que eu nunca entendi, e você nunca quis me explicar. Você mandou eu largar meus medos, que você ia me fazer feliz, que para você, minha felicidade era tudo.

Lembra no nosso primeiro encontro? Quando você pegou minhas mãos, e conversou comigo, riu e ao mesmo tempo brincou com meus dedos. Queria a todo custo desfazer aquela má impressão da primeira vez que nos vimos, queria ser pra mim, um pássaro a voar. Sentamos naquela praça, que você achou linda, e ficamos lá por longo tempo, às vezes falando, às vezes brincando, às vezes em silêncio. E o mais incrível, o silêncio incomoda os namorados, mas para nós, o silêncio era o encontro de nossas almas, tão intensas e afins.

E agora, que você decidiu conhecer novos mundos, e colocar novos personagens na sua vida, eu me sinto sozinha, mas ao mesmo tempo, te tenho comigo a todo instante. Vou te confessar uma coisa. Tem certas tardes, que vou a “nossa” praça, e te procuro por todos os lados, talvez eu esteja alucinada nesses momentos, mas como apagar da memória  todos os outros encontros que tivemos? 


Recorda quando brincamos pela praça? Correndo e fazendo charme, como quaisquer adolescentes apaixonados, que sempre têm suas brincadeiras. Teve momentos que ficamos abraçadinhos, tão abraçados, que pensei que fossemos juntar nossos corpos e transformar em um só.

Ei, sou escritora. Preciso de um amor, de uma pessoa que me dê a inspiração certa. Você sempre amou meus textos, admita. Quando sentávamos de baixo daquela árvore, e eu lia pra você, te sentia viajar, flutuar com as minhas novas ideias e personagens. Eu te reinventava. Mas agora, sem você, não sei o que fazer. Meus textos estão mornos, sem sentimento, o que se espera de uma escritora, que faz textos sem paixão?

Sabe onde estou? Estou indo embora da praça, foi lá que te escrevi isso. E parece que toda a vez que passo por ela,  a deixo, deixo você também, deixo parte de mim, parte de você, parte do que fomos. Mais antes de ir, quero te perguntar uma coisa. Era verdade que você ia me fazer feliz? A minha felicidade, para você, ainda é tudo? Me responde. Essa pergunta se tornou meu vício durante esse tempo que estivemos separados. Me responde. Porque não quero transformar nossos sentimentos, quero senti-los pra sempre. Quero te sentir pra sempre.

Sobre garotas